AO MESTRE COM CARINHO
Antes do carnaval tive uma virose e precisei me afastar três dias da bancada da 95FM e do Jornal TCM. Na quarta-feira de cinzas voltei ao trabalho. Preparava o roteiro quando doutor Milton entrou na Redação. Com as alpercatas que costumava calçar para vir trabalhar (nos feriados e finais de semana) e sem as tradicionais camisas sociais ele caminhou até a minha sala.
– Bom dia meu filho, vim fazer uma visita de médico. Como você está? Recuperou-se mesmo?
– Opa doutor Milton, bom dia! Estou bem melhor graças a Deus. Passei uns dias na casa de minha mãe. O senhor sabe como é: cuidado de mãe é diferenciado.
Ele sorriu concordando e disse que se eu precisasse de mais tempo para estar pronto para o batente podia voltar pra casa. Recusei a oferta. Conversamos amenidades e ele se despediu com aquele ar tranqüilo de sempre. Foi a última vez que eu apertei a mão do professor Milton (ele não gostava muito dessa história de doutor Milton, mas não tinha jeito).
Antes disso, lembro de um dia em que estava na casa dele para resolver questões da cobertura das Eleições. Sempre que o horário esticava ele e dona Zilene logo tratavam de providenciar o jantar. Na mesa da cozinha, o professor bem a vontade (de olho no pote de sorvete) comia um prato de frutas preparado com carinho por Lidú e assistia o canal 10 quando questionei:
– Doutor Milton por que o senhor não pede pra trocar esse receptor analógico e colocar um em HD?
– Não meu filho, eu quero ver como os assinantes que não tem assinatura em HD estão assistindo o Canal 10. Assim posso conferir como está a qualidade do sinal que chega pra eles.
Silenciei e por alguns instantes pensei como naquele momento aprendi mais uma lição com o professor. Ele sempre estava mais preocupado com os outros. Queria prestar um serviço de excelência e se colocava no lugar dos clientes e colaboradores das três emissoras de rádio e da TV do Sistema Oeste.
Certo dia na sala de trabalho dele perguntaram-lhe qual o segredo do sucesso. Ele inclinou a cadeira para trás, fez uma pausa e respondeu juntando as mãos e cruzando os dedos (como fazia sempre).
– O segredo do sucesso é fazer negócios que sejam bons para os dois lados. Em qualquer relação, seja comercial, pessoal, afetiva, só há sucesso se ambas as partes estiverem satisfeitas e felizes.
Um homem que mudou e mudava diariamente a vida de muita gente dentro e fora das empresas que comandava. Teria aqui centenas de histórias pra contar. Relatos de generosidade, de educação, resolução de conflitos, sabedoria para tomar decisões, atenção para com o próximo (sejam familiares, amigos, conhecidos, colaboradores, desconhecidos), respeito, fé, honradez e simplicidade. Uma humildade singular.
Sou imensamente feliz por ter tido a oportunidade de nesses 12 últimos anos partilhar de poucos, mas ricos momentos com o professor Milton (na Uern e no Grupo TCM). A foto abaixo já tem mais de dez anos, mas traduz bem essa alegria de ter convivido com o professor. Não tenho dúvidas de que a minha impressão e gratidão são as de milhares de pessoas. Milhares mesmo.
Minha solidariedade e afeto à dona Zilene, Stella Maris, Taliana, Camilla Maroni,Cibele, Luiz Gustavo Sena, Léo, Elano e todos os familiares deste ser humano inspirador. Vamos lembrar com carinho de suas lições.
Moisés Albuquerque – diretor de jornalismo do Grupo TCM